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Dr. Zé de Castro: a morte do último grande político da região




Faleceu, na manhã dessa terça-feira, com Covid o médico, cirurgião e prefeito eleito de Macabu, Dr. José de Castro ou, como era conhecido por todos, Dr. Zé. Nesse artigo refiro a ele como o último grande político da por dois motivos: o primeiro é que, mesmo já ocupando o cargo de prefeito de Macabu em duas ocasiões anteriores (1983-1988 e 1993 a 1996) o mesmo não teve a biografia manchada por processos e escândalos de corrupção. O segundo motivo é que sua personalidade e seu trabalho faziam o "homem" Zé de Castro ser muito maior do que o político. E esse é o privilégio para poucos.


Me aproximei de Dr. Zé nos últimos anos. Apesar de já o conhecê-lo há muitos anos, foi nos últimos quatro em que eu tive mais contato. Pude acompanhar de perto seu excelente trabalho como médico, em Quissamã, onde atuava no projeto "Saúde Vai até você" onde a secretária na época, Simone Flores conduziu um piloto que levava toda a equipe da saúde básica para a casa de moradores e fazia de lá, durante todo um dia, um "bunker" de atendimento.


Tive o privilégio de acompanhar algumas edições desse projeto e entender porque o pacientes simplesmente se "apaixonavam" por Dr. Zé. Aquele médico atencioso, que olha no fundo dos olhos do paciente, que explica pacientemente aos mais humildes como se usa determinada medicação e que tem disposição a escutar não apenas as queixas clínicas, mas os anseios da alma do paciente, não existe mais. A população, sobretudo no SUS, tá mais acostumada com médicos que nem olham elas na cara e que apenas prescrevem remédios. Esse cuidado, esse carinho, esse toque humano não existe mais. Hoje, as faculdades de medicina formam robôs, frios e pequenos burgueses que só vão para o SUS para garantir uma aposentadoria. Médicos do povo, como Dr. Zé são cada vez mais raros.


Talvez seja por isso que Zé tornou-se tão querido. Sempre recebendo o povo, em sua casa humilde no bairro Bocaina, em Macabu, o médico jamais deixou de atender ninguém. Na semana retrasada, o encontrei em sua casa e depois seguimos para uma entrevista na Câmara Municipal, onde ele se reunia com a comissão de transição. Fomos interrompidos várias vezes por pessoas que o procuravam, seja para mostrar exames ou para pedir conselhos médicos. Na campanha, inclusive, Zé chegou a ser advertido pelos seus advogados de que "essa história de atender todo mundo" poderia dar problema. Ele respondeu. "Faço isso há quarenta anos e jamais, por conta da política, deixarei de atender ao povo".


Ironicamente, Zé de Castro acabou vítima da doença que se elegeu prometendo combater. A idade avançada e as comorbidades cobraram o seu preço levando de Macabu e da região não apenas um grande político, mas sim o último homem da região cuja persona era superior a qualquer cargo. Que seu exemplo seja seguido pelos que virão. Pois a grandeza, provou Zé, não está na posição em que se ocupa, mas sim na marca que se deixa na vida e na memória das pessoas.


Descanse em paz, Dr. Zé!




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