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A jogada de Castro: Bacellar governador, Paes favorito e o Rio como microcosmo da polarização nacional


A política fluminense, sempre generosa em reviravoltas, acaba de testemunhar mais uma jogada de bastidores digna dos melhores capítulos da crônica palaciana. O governador Cláudio Castro indicou seu vice, Thiago Pampolha, para o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), movimento que, à primeira vista, parece tecnocrático, mas que na verdade carrega o DNA de uma manobra clássica de rearranjo de poder: ao abrir a vaga de vice e preparar sua própria renúncia, Castro articula para que Rodrigo Bacellar, atual presidente da Alerj e seu aliado de primeira hora, assuma o governo do Estado em 2026 e dispute a reeleição com a caneta na mão. Um script repetido, mas ainda eficaz na política brasileira.



Bacellar: o candidato do poder, mas não da unanimidade


Rodrigo Bacellar é hábil, conhece os subterrâneos da política fluminense e domina os meandros da Alerj com uma desenvoltura que lembra outros caciques do passado recente, como Jorge Picciani.


Mas o salto do Legislativo para o Executivo traz riscos. Primeiro, porque, apesar da força institucional, Bacellar ainda é um nome de pouco apelo popular. Seu capital político é de bastidor, forjado em alianças com prefeitos, deputados e estruturas partidárias — um estilo que pode ser menos eficaz em tempos de redes sociais e clivagens ideológicas agudas.


Além disso, ao se tornar o candidato do bolsonarismo no Rio — seja por afinidade ou por conveniência — Bacellar ganha o apoio de uma base fiel, mas polarizadora. O eleitorado fluminense, sobretudo na capital e em cidades da Região dos Lagos, está dividido entre o saudosismo do lulismo e o ressentimento antipetista que ainda permeia o discurso da direita. Com Bolsonaro inelegível, Bacellar poderá herdar votos do ex-presidente, mas também o peso de um legado que perdeu força nas últimas eleições nacionais.


Eduardo Paes: o pragmático no campo da esquerda


Do outro lado da trincheira estará Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, cujo projeto de poder passa inevitavelmente por Brasília. Paes flerta com 2026 como quem se prepara para um voo maior, e o governo estadual seria uma plataforma perfeita para isso. Com trânsito em setores do centro e uma aliança cada vez mais sólida com o presidente Lula, Paes deverá encarnar o palanque lulista no estado. Isso o coloca em vantagem no eleitorado popular, especialmente na Baixada e nas zonas norte e oeste da capital, onde o lulismo segue forte.


Entretanto, Paes também carrega o ônus de sua própria trajetória. Sua imagem está associada a uma política pragmática e, por vezes, acusada de clientelista. A aliança com Lula poderá espantar parte do eleitorado de centro que o apoiou em outras ocasiões, principalmente se o governo federal continuar com baixos índices de aprovação.


Polarização regional: Lula x Bolsonaro, versão carioca


A eleição fluminense em 2026 será, sem disfarces, uma réplica da polarização nacional. Rodrigo Bacellar assumirá o figurino de herdeiro do bolsonarismo, tentando amalgamar forças conservadoras, evangélicas e segmentos militares — em especial na Zona Oeste do Rio e no interior fluminense. Paes, por sua vez, transformará seu palanque num comitê regional da campanha de Lula à reeleição ou de seu sucessor, se houver substituição.


Essa configuração pode fortalecer Bacellar nas regiões mais à direita, mas também cristalizar sua rejeição em áreas progressistas e de classe média que rejeitam o legado de Bolsonaro. Em contrapartida, Paes terá que equilibrar a retórica lulista com seu perfil de gestor “centrista” para não perder votos no eleitorado fluminense que rejeita radicalismos.


Macaé e o interior: campos de disputa decisiva


Na Região Norte Fluminense, Bacellar tem mais capilaridade que Paes. Macaé, com sua elite empresarial ligada ao petróleo e sua classe média marcada por forte presença evangélica, tende a pender para o lado conservador. No entanto, os bolsões de pobreza e os movimentos sindicais da Petrobras mantêm um vínculo com o petismo — o que pode tornar a cidade um microcosmo da disputa estadual.


Campos dos Goytacazes, terra natal de Bacellar, será um reduto importante, mas pode não ser suficiente. Cidades como Cabo Frio, Araruama, São Gonçalo e Duque de Caxias serão decisivas. E é nelas que Paes aposta suas fichas, contando com apoio de prefeitos e estrutura de governo federal para avançar.


Conclusão

Cláudio Castro joga xadrez com as peças do tabuleiro fluminense. Ao indicar Pampolha e preparar sua saída, cria as condições para que Bacellar governe e dispute a reeleição com a máquina estadual a seu favor. Mas, se as eleições de 2026 repetirem o clima de guerra ideológica que marcou as últimas disputas presidenciais, o favoritismo será relativo. A caneta na mão ajuda — mas não garante a vitória. Bacellar terá que sair dos bastidores e encarar o palco principal. E, neste palco, Eduardo Paes é um adversário calejado, que já enfrentou gigantes — e sobreviveu.

 
 
 

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© 2023 por André Luiz Cabral

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