Saber científico: aposta do Prefeito pode finalmente colocar Macaé no século XXI

A Brasil Offshore deste ano tem um simbolismo histórico que, talvez, só seja percebido na próxima década. Porém, ao divulgar Macaé como a "Cidade do Conhecimento" o prefeitoDr. Aluízio marcou o início de uma nova era ao propor bem mais do que um simples slogan. O saber universitário gera muito mais do que conhecimento: é uma industria limpa, sustentável e dinâmica que, ao contrário da industria do petróleo, faz quase a totalidade de seus lucros circularem na cidade. Além disso, projetos inovadores como o incentivo às Startups pode fazer da cidade um celeiro de inovação, empregos e novas oportunidades.
Acompanho a política e a economia da cidade desde a virada do século, onde tudo girava em torno da Petrobras. O dinheiro do petróleo gerou bilhões de reais para os cofres públicos, porém, muito pouco foi revertido para fazer Macaé se libertar da monocultura petrolífera. Como resultado disso, a cidade viveu uma grande contradição. Ao mesmo tempo que o governo investia forte em propaganda afirmando que a éramos o Eldorado do Emprego, a maioria das vagas continuava sendo ocupadas por pessoas de outras cidades que chegavam em Macaé apenas para embarcar. E a grana voava para longe junto com os helicópteros. Ao macaense, nativo, restava o subemprego: condenados aos salários vexatórios do comercio ou a vagas subalternas na, ainda tímida, economia de serviços.
Ainda nos meados dos anos 2000 a cidade atingiu picos de arrecadação e investimento. Porém, por outro lado a miséria e a desigualdade cresciam. Sem qualificação profissional necessária para ingressar na próspera industria offshore, dezenas de milhares de pessoas vieram para a cidade e ficaram desempregadas ou subempregadas. Gente de todo o país fez bairros explodirem do nada. Da Piracema ao Lagomar, passando pela Ilha da Leocádia às Nova Esperança, favelas cresceram e junto com elas problemas gravíssimos. Segundo o IBGE, na virada dos anos 1999 para 2000 o número de pessoas na linha da pobreza (faixa de renda inferior a R$ 140 mensais por pessoa) chegou a 69% da população. Para se ter ideia, em todo o Brasil este índice é de aproximadamente 50%. E isso tudo transformou Macaé numa pobre cidade rica. Pobre não, aliás, miserável.
A HORA DA VIRADA — No limiar de mais uma crise econômica (que não é a primeira e nem será a última) o prefeito de Macaé resolve voltar o seu olhar para a universidade e enxergar nela uma oportunidade de crescimento. Sim, universidades atraem estudantes e eles trazem contigo dinheiro que movimenta a roda da economia: da construtora que vende o apartamento ao pipoqueiro do Campus, todo mundo se beneficia. E, como o dinheiro que transforma é aquele que está no bolso do trabalhador, esta grana é muito bem vinda.
Macaé tem tudo, realmente, para se tornar a Cidade do Conhecimento. Não apenas com suas pesquisas, que outrora criaram tecnologia para explorar petróleo, mas sim para atrair oportunidades de negócio. Precisamos crescer enquanto pólo universitário e seguir o exemplo de cidades que se reinventaram e prosperaram. Entre as dúzias de exemplos, cito a cidade de Montes Claros-MG. Até a década de 1980 a cidade era conhecida pela seca e miséria. Hoje a cidade tem 21 instituições de ensino, entre públicas e privadas que fazem de sua economia uma das mais promissoras do país.
Estamos no caminho para isso, afinal, quem pensava no início da década de 2000 que teríamos cursos de medicina, psicologia, engenharias na cidade? Ainda me lembro de uma matéria que escrevi em 2003, no Jornal O Diário criticando que, para instalar seu curso de Direito em Macaé, a UFF teve que usar as precárias instalações de um jardim de infância. Hoje, temos um Pólo Universitário em expansão e uma rede de serviços pronta para receber cada vez mais estudantes. O cavalo está selado e pronto para partir. Que bom que Macaé acordou e resolveu não perder esta oportunidade.
André Luiz Cabral - jornalista, teólogo e acadêmico de Direto
Foto: Maurício Porão/PMM