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Manifestações dos universitários: 99% sérias, mas aquele 1% é "Lula Livre"


O que um semianalfabeto, corrupto e réu condenado tem a ver com o corte de verbas imposto por Bolsonaro às universidades e a defesa da "educação pública de qualidade"? Nada e tudo ao mesmo tempo. Primeiro, cortar verba de pesquisa universitária como retaliação à adesão de parte da classe acadêmica à resistência contra a Reforma da Previdência é mais do que injusto. É uma imbecilidade que compara o QI do presidente ao de uma mesinha de cabeceira. Numa analogia bastante tosca Bolsonaro, conceitualmente, está atacando a universidade porque há universitários maconheiros, devasso e esquerdistas. Se formos usar esta lógica, deveríamos tacar fogo no Congresso porque lá há corruptos ou pior: prender todos os assessores parlamentares porque alguns são laranjas (Flavinho que o diga). O que eu quero dizer? Quer toda generalização é burra. Isso é óbvio, mas estamos numa era em que o óbvio precisa ser reafirmado a toda hora.

Dito isso, nada vai tirar o caráter justo do protesto contra os cortes nas universidades. Por exemplo, se não houvesse investimento na pesquisa acadêmica na UFRJ e UENF há 40 anos, o Brasil não teria o domínio, em escala global, da tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Sem isso, aliás, jamais teríamos hoje a Petrobras como uma potência mundial. Teríamos, pelo menos, 20% de nosso PIB perdido com uma riqueza inexplorada no fundo do oceano. E não é só isso: o Brasil produz conteúdo intelectual para o mundo em várias áreas, como medicina, engenharia, agronomia e ciências humanas. E antes que você associe as ciências humanas aos maconheiros comunistas que vivem falando merda na internet, quero que você lembre, por exemplo de Paulo Freire, que revolucionou o método pedagógico no mundo e do professor Muguel Reale, que deu uma contribuição histórica à ciência jurídica, dando uma compreensão axiológica ao Direito.

E O LULA? — As bandeiras de "Lula Livre", do PT, da CUT e até de Che Guevara (essa turminha universitária que defende igualdade de gênero precisa estudar História) mancharam sim o caráter das manifestações. Misturar a apologia a um político de estimação das esquerdas à luta dos universitários só reforça o discurso da Direita de que as Federais são antros de doutrinação marxista. Tentar se apropriar da justa manifestação dos universitários e capitalizar politicamente em cima delas mostra a falta de caráter de partidos como PT, PCdoB e Psol. Partidos que defendem ditadores como Maduro e Kim Jong-un (que não deixam o povo sequer fazer pesquisas no Google) não tem moral para defender a bandeira da pesquisa acadêmica. São canalhas que tentam usar os estudantes como massa de manobra e ignorantes úteis. Não queria usar as palavras do Bolsonaro, mas é assim que os movimentos de esquerda estão enxergando e usando os universitários.

O QUE PRECISA MUDAR? — Longe de toda esta polêmica, é preciso fazer alguma reflexões. A primeira é: a universidade pública de hoje é a mesma que no passado desenvolveu a tecnologia de sonda e foi pioneira nas vacinas? O Dinheiro das Universidades está sendo destinado mais para o que? Pesquisas que vão dar retorno à sociedade ou seminários e performances teatrais sobre o orifício anal? Há justiça no preenchimento de vagas nas federais, ou os burguesinhos que estudaram a vida toda em escolas particulares estão levando vantagem sobre os pobres?

Como resposta às manifestações, a bancada do PSL já articula a apresentação de uma Proposta de Emenda Constitucional para que as federais cobrem mensalidades de quem pode pagar por elas. A notícia foi dada pelo presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE) após as manifestações de ontem. Talvez este projeto seja uma solução para as universidades acabarem com seus problemas de financiamento, além de reequilibrar a balança social das mesmas.

Só um exemplo: Metade dos alunos da USP pertecem a classe dos 20% mais ricos da sociedade. Se o rico estuda de graça, o que acontece com o pobre? Mas se o pobre não teve uma boa escola durante toda a vida, vai aproveitar bem a faculdade? A desigualdade social vem sendo perpetuada pelo sistema educacional, e algo tem que mudar. E, soltar um criminoso, definitivamente não é a solução para o problema.


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