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O caso Dandara e a banalização da violência contra a mulher


Demorei para escrever a respeito, até porque, para discorrer sobre um tema tão delicado, que envolve um assassino, uma jovem e duas famílias destruídas é preciso esfriar a fogueira da comoção pessoal para que tenhamos, no mínimo, uma análise sensata sobre o caso. Dandara Ramos, uma jovem que foi brutalmente assassinada em Conceição de Macabu é mais, muito mais do que uma vítima. É, sobretudo, um símbolo de como nossa sociedade é permeada de violência e objetivação contra as mulheres.

Antes de falar da violência e objetivação, quero fugir dos chavões feministas atuais (até porque não concordo com o modus operandi do feminismo moderno). Quando falo em objetivação, o caso Dandara me chama a atenção porque seu assassinato, por motivo torpe, tem como pano de fundo, um machismo latente em nossa sociedade. Machismo este que leva a muitos jovens a acreditarem que há duas categorias de mulheres: as que são para casar e as que são "apenas para se divertir". Neste caso em tela, os dois "tipos" de mulheres não foram categorizadas por seu caráter (até porque Dandara era uma jovem trabalhadora, querida por toda a cidade de Macabu). O critério do agressor foi simplesmente o status social.

O Portal de Notícias Viu trouxe uma matéria informando que Gabriel Barros Rangel, o assassino confesso de Dandara, namorava uma moça rica em Rio das Ostras, engenheira, com quem queria casar. Dandara, com quem mantinha um caso, por ser uma garota pobre do interior, era apenas uma "diversão". Do romance sem compromisso com Dandara veio a gravidez inesperada, o que teria levado o parceiro a executar o crime. Uma mulher pobre e grávida atrapalharia os planos com a outra namorada.  Ou seja, para o jovem, algumas moças são para casar, e outras são meros objetos de prazer. E, como todo objeto, Dandara foi cruelmente descartada por um criminoso.

Quando critico o feminismo contemporâneo, em sua essência, o faço porque o movimento está mais preocupado em "lacrar" do que em conscientizar a sociedade de que a mulher é muito mais do que um corpo, uma bunda, um sorriso bonito. A mulher é, antes de tudo, um ser humano que merece ser amado, respeitado. Sua vida vale mais do que qualquer outro bem neste mundo. 

É preciso ensinar aos meninos, desde pequenos, de que toda mulher tem valor. Umas não são melhores do que outras, apenas diferentes. E também é preciso ensinar as mulheres a não se submeterem a relacionamentos abusivos em que umas são tratadas como matriz e outras filial. 

Quanto à banalização da violência, isso não vai acabar a menos que a sociedade (nisso incluo homens e mulheres) se engaje em defender as vítimas de violência. Precisamos de leis mais severas para punir os agressores de mulheres. Desde o agressor doméstico até o estuprador ou assassino. É por isso que o movimento feminista tem que lutar. Afinal, o grande inimigo das mulheres não é a cultura do estupro ou qualquer outra (por isso, filtros em fotos do perfil no Facebook são inúteis). A grande inimiga das mulheres vítimas de violência é a CULTURA DA IMPUNIDADE. Afinal, com um pouco de dinheiro e um bom advogado, assassinos confessos como Gabriel Barros em menos de 10 anos (isso se forem condenados) estarão novamente nas ruas. 


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